Sunday, August 26, 2007

Primeiro tocá-lo com luvas de veludo
Depois beijá-lo como se as glândulas salivares salvassem mil Lázaros
Finalmente meter-me dentro dele, mas ainda assim amaciá-lo devagarinho,

Permanentemente sob o efeito do encanto

O que foi feito da alma salgueirista?

Onde estão
Aqueles que deram nome aos anos
Que passaram numa caravana vermelha
Aqueles que estiveram onde tinham de estar
Que no momento e no lugar
Exactos, desarmaram a bomba no último segundo
Onde está a espada dos heróis
Que, montados em negros corcéis
Alteraram decisivamente a tendência das batalhas
Quando já tudo parecia perdido
(Nomes como o do Al-Mansor
Skanderbeg ou El Cid
O Campeador)

Onde estão
Os bolorentos vestidos rendados
Que à luz do azeite apaixonavam trovadores
Onde estão as mágicas danças do ventre
Os encantadores de serpentes
E os tapetes voadores

Onde estão
As lúbricas bacantes
Os tirsos e as flechas
Amores que celebravam a Natureza
A pele nua ou sob o tecido transparente
O sangue e o vinho e o sexo

Onde estão
Os míticos jogadores de futebol
Que, quando as coisas corriam mal para a sua equipa,
Recebiam a bola atrás da linha de meio-campo
E fintavam tudo até à baliza
Quebrando, por um mísero instante,
A supremacia arrogante
Dos colossos do Norte
E devolvendo uma réstia de orgulho
A uma cidade esquecida
(Ecos de jogos sabe-se lá de há quanto tempo...)

Onde está a Esquerda italiana

Onde está a boa e velha pornografia
Que, vinda de Itália e do remoto Leste,
Nos assaltava as casas entrando pelas janelas partidas de sótãos bafientos
Livros aleatoriamente censurados pelos ratos,
Fitas impregnadas do magnetismo dos temporais…
Meu deus, não há maior saudosismo que este!

E já agora, caralho, onde estão os supremos poetas
Do sublime género erótico-satírico
Existem? Façam-se ouvir!
Tomem o pulso a este mundo de merda
Pois não é a merda um tema tão digno como qualquer outro!?

O que aconteceu ao sec. XX
Onde estão as estrelas rock
Drogadas e excêntricas
Por onde rastejam as ratazanas nojentas,
Por onde se arrasta a indelével
Sombra,
O que foi feito
De ti,
Panchito Velazquez?

Eu falo sozinho

Quando ninguém quer ouvir
O que eu tenho para
Dizer, eu falo sozinho

Sozinho eu berro, eu mordo
Eu babo-me e fito o
Espelho com olhos vermelhos
E expressão alucinada
Eu encho o quarto de ranho
Pinto as paredes de preto
Mordo a língua, arranco os olhos
Conjecturo a maneira de matar
O meu amigo polaco

(Sou original, e
Tenho sempre ocupações
Bizarras com que posso
Exorcizar o tédio)
Eu falo sozinho, e balbucio
Palavras satisfatoriamente
Inconsequentes que nunca
Hão-de ser ouvidas por
Ninguém

E ainda bem

(Hino ao) Desaparecido em combate

Ele tinha barba
Ò Chuck Norris tão belo!
Tinhas uma grande espingarda
Libertaste o teu sargento
Perdeste o bilhete de identidade.
Toda a gente pensou que ele não se ia safar
Mas num final espectacularmente imprevisível,
Ele safou-se

Saltou do helicóptero e aterrou no lamaçal
Depois disse:

“Culpem o Canadá
Nem o Al Capone sabia em que rua ficava
Traficantes de cerveja falsificada
Que tentavam pôr cobro à lei seca
A legislação é para respeitar!
Por muito injusta que pareça...”
Publicidade na televisão
Ponto da situação:

Aparece uma gaja a dar cabeçadas numa grade com um cigarro em cada mão;
Um gajo a fumar como se estivesse a beber leite da mama da mãe, babando-se dantescamente e apresentando sintomas sérios de um ataque de epilepsia;
Gajos que acendem um cigarro com outro mas depois disso ainda dão uma última passa na beata;
Acções reaccionárias em Vegas com cenas de casinos não enevoados pelo fumo dos charutos.
Por fim apelam à carteira…

Apelam à falta de tesão
Moem-nos o juízo
E derretem-nos o coração
Com referências macacas ao suco dos beijos molhados

Viva a França!

Insinuam que existem tanques de nicotina no interior do organismo com um buraco no fundo,
Reportam as culpas a Maquiavel.

Ode aos Grimm

Vou escrever uma onomatopeia
__________________ _ _ __ _________ ____ ________________
Liclactocbamsssiinkk scatassstroff zau
& sllinnkbooim $$$$$$hhhh!!!
Gigante que come crianças
E o que fizeram à lâmina espetada na árvore?
O reino dos doze animais

A Alemanha é curta
Em botas de sete /////// (léguas)
Há que voar por ela
Sentir o temporal da noite a rasgar a carne
Numa vassoura de bruxa

Podíamos pregar uma cabeça de cavalo à parede
Acho que ficava bem
E não corríamos o risco
Das placas de aço nos caírem nas cabeças
As tuas ideias são demasiado fluorescentes
E eu estou farto dessas e outras impurezas

Se tu fosses os sete ??????? (anões) ;!i=+
E encontrasses a Branca de Neve
Lânguida e adormecida
O que fazer quanto àquele saboroso e merecido banho
Que tinhas planeado?

Talvez matar a lua amarela
De Inverno
Talvez cavalgar pelas nuvens cinzentas
Sentir zzssswooooosshhh aos ouvidos
Montar a cruzada para matar o dragão
Enterrar o punhal reluzente
No pescoço do sentimento que surge sempre encarapuçado
E descrever o arco do gesto bem delineado
E depois ____________. Coisa nenhuma.

Saber que não existe um tal laço vermelho
E cabelos pretos
Faces brancas e rosadas
Aperceberes-te de que já não existe príncipe
Que a possa salvar
Menos tu. Mas já tens a tua
Vidinha feita

Devíamos partir o cinzeiro de casa
E deitar as cinzas ao mar
Para que possa ser confundido
Com um idiota cremado.

E devíamos deixar traços
__________//________X2____/^º_______
Como testemunho,
Que aqui juramos ser verdadeiro
- Carcereiro, traz a bíblia!
Que a vida não pode ser retomada
Nem interrompida.

Daí como dar à manivela
Nesta engrenagem maquiavélica
Sete dias, sete ))))))) (noites) ZZZZZZZZ...
Desejoso de deixar de a suster.
Para quê ficar negro
De óleo e sangue pisado
(Um mecânico do feiticeiro malvado)
Nos dentes do seu basilisco
A Alemanha é lasciva
Curta mas repleta
De pensamentos obscenos.

“Em pó te hás-de tornar”
Disse-me alguém um dia
Nunca me apercebi do quão literal podia ser
Se não hás-de só de o haver
Tomado aos tropeções
Todo o sentido não tem
Sentido < > Nenhum.

E agora as larvas de outrora
Que outrora pertenciam ao fatídico pavor
Hão-de ir comigo para a cova
E hei-de ser eu a fechar a tampa
Do meu caixão
Não estarei lá para chorar
Uma vez sem olhos
Hei-de vaguear pelo centro da Terra
Desorientado
Nada pode acabar aqui
(Não me podem deixar assim)
Eu não sou o soldadinho de chumbo
Não deixem a menina sozinha
Deixem-me ouvi-la a cantar
Deixem-me adormecer acompanhado
E acordar decidido
Deixem-me passar a mão pelo seu cabelo
Como estou eu senão desnudado?
Porquê tão fustigado pelos dias?
Mulheres como ela
Já não se fazem.

Desflora-me, suplico-te

Desflora-me, suplico-te!
Cai-me em cima como o deus do trovão
Quase me apetece acariciar tudo...
Desperta em mim o sabor do chão
Faz-me lamber o entulho.

Fantástica a liberdade com que os pensamentos voam
Decepam-se como mouros tresloucados
Arrepiam-se de prazer, 1000 bocas a clamar por ti
São pistolas de cristal almofadadas por dentro

Percorreste a auto-estrada, o desvario, só para vir ter comigo, e isso excita-me profundamente.

Estar contigo é como amar um robô, malhar no ferro quente como um ferreiro
Estar contigo é como ouvir o som de flautas tocadas pelos Sigur Ròs

E a saliva sabe-me a areia.
Chora, imploro, arrebata-me,
Deixa-me ser teu amigo.

A bolsa ou a vida

O meu savoir-faire é o meu cão
Raios e coriscos, inferno e danação.
Ò minha água pútrida,
O meu Ice Tea de limão
Meu açúcar,
Boneca dentro da fruta
Astrónoma de olhos verdes
Vestida de Homem das Neves

Resta-nos pouco nesta vida
Senão beber, beber desvairadamente
Um Homem é aquilo que bebe!
Perder a noção do que já se bebeu
E continuar a beber.
Beber desenfreadamente, estouvadamente,
Anticonstituicionalissimamente.
Beber para ter forças para beber mais.

Beber fazendo um brinde:
“Longa vida a quem viva somente
Pelo próximo copo de aguardente!”
Beber tanto ou mais que o Dylan Thomas e o Allen Ginsberg juntos,
Beber até dizer “Chega!”
Beber e cantar, beber e beijar,
E vomitar perigosamente perto dos lábios que nos beijaram.
Depois disso beber mais um bocado.

Beber para afogar as mágoas
Afogá-las com muito cuidado
E voltar a puxá-las para baixo
Sempre que voltarem com a cabeça
Teimosamente à tona.
Beber como um peru no Natal,
Fazer de conta que o fígado não existe
Nem faz falta.

A nossa força é
Não ter ases na mão
Mas tentar o ridículo
Na esperança de o fazer funcionar.
A nossa fraqueza é sermos ridículos
De quando em vez
Raptar a lua
E fazê-la brilhar.

Perdoem-me, irmãos, na verdade
Sou só um simulacro de astronauta
Sou só um palhaço cosmógona
Sou poeira de estrada e não de estrelas.
Perdoem-me, irmãos, na verdade
O entusiasmo é um buraco negro
Que me grita - Nada em excesso, assim
Na Arquitectura como na vida.

Toda a síntese inconsciente destas linhas
Conspirava em copos de sanidade,
Pestanas incongruentes das azias
Que terminam no caralho da saudade.
Toda a parafernália do coração
Dispara no caminho do deserto
E faz da sua nobre profissão
Manter-se no caminho incerto.

O menino da lágrima

Mas o que aconteceu?
Estás a chorar porque te disseram que és feio?
Essa tua cara de canastrão que me recorda vagamente os meus hexa-avós…
Fizeram-te um penteado que não querias?
Que te deixa envergonhado, enxovalhado pelos teus amigos enquanto jogam ao pião.
Ou então são esses teus dentes, oh meu deus, dentes podres que tão cruelmente cedo perderam a alvura do leite, anos e anos de sofrimento antes de a recuperar, sessões atrozes de tratamentos precários,
fizeste um pacto com o diabo, não foi?
Entrou-te o fumo para os olhos, fumam cachimbo ao pé de ti.
És mais desgraçado que a menina dos fósforos, essa ao menos engasgava-se de si própria, toda ela saliva e lascas de madeira.
E a menina dos teus olhos, completamente perdida de vista…
A porta dela à tua frente, a janela de onde, tua, a guardas.
O teu primeiro amor será amanhã casado e com filhos de alguém que não tu, e tu sempre gostarás dela.
Perderás a virgindade com uma camponesa roliça,
e com o cheiro embriagador e selvagem de uma morena que não se lava durante o período menstrual,
que apregoa monossílabos guturais
(os melhores rebuçados de mel do mercado
não tirarão o sabor a derrota…)

O avanço implacável do cavalo-de-ferro…
Pradarias inteiras queimadas, manadas e manadas de búfalo dizimadas, séculos de civilização deitados ao lixo
Ou então os sapatos apertam-te os pés,
esses pés chatos que mais tarde te atormentarão ao sol nos infindáveis exercícios militares.
Dos teus sapatos ao nó da gravata sobe uma linha monocroma e coerente que te sufoca o peito.
Cega-te os olhos o reflexo da tua risca diagonal no cabelo loiro
pois em todas as salas há um espelho à tua frente.

E lá fora brilha o sol, irmão.
O fumo há longo tempo dispersou.
Porque brilham também os teus olhos?
(É natural que brilhem, marulhadinhos como estão…)

Talvez até estejas a sorrir por dentro até às orelhas,
profundamente melancólico por teres descoberto há cinco minutos atrás que a esmagadora maioria da população mundial desconhece que existe algures um sítio chamado Alentejo
perdido no charco da existência pura.

Mas não é bom poder atirar os problemas para a frente?
É mais cómodo e provoca menos dores no peito e no estômago.
Só se pode mudar de vida uma vez, é melhor poupá-la,
conserva-te, mantém esse exagero mórbido dos apetites.
Porque depois de pedir para perder, esgotar a paciência, deitar e morrer,
eu posso até estar cansado de estar cansado, mas não consigo deixar de me cansar, e nessa altura
já nem tento evitar o que quer que seja.
O que poderias fazer com o teu corpo…
Se ao teu corpo presidisse uma vontade com autonomia para o usar dessa maneira.
Mas tudo o que tu fazes é chorar.

Alegra-te, vá lá…
Tu vais pegar em espingardas, trocar de meias num pântano cheio de crocodilos no coração de África.
Antevejo uma existência fantástica, uma ponta do iceberg e uma ponta de remorsos.
Podes ser tudo, ou nada, ou qualquer coisa,
e deixaste uma carranca na parede da sala de toda a gente, entraste como quem não quer nada, para depois te transformares num toque de clarim, a bradar “este é o caminho!”
Tocaste o meu coração dezasseis vezes.
Dos buracos desse coração as golfadas de sangue que não me deixam respirar.
Haveria o teu estúpido retrato de devolver-me a vontade de viver?
Ou preferirei engasgar-me no sangue do meu coração partido?

As tuas palavras seriam o melhor presente que poderia receber.
As lágrimas escorregam pelo nó do meu laço, e por aí abaixo até à flor na minha lapela, perante a tua visão paradisíaca.
Menino da lágrima, como é possível a tua beleza?
(é com certeza uma questão que não veremos respondida na “Gaia Ciência” de Nietzsche, essa e
“haverá psico-trópicos e poesia hoje à noite?”, ou ainda

“haverá alguém suficientemente onanista para não se masturbar?”)
O teu choro compulsivo causa-me pensamentos perversos,
sem custo o demonstraria de forma bastante clara.
É impossível que eu não me repita…
Já que uma só ideia me ocupa a cabeça e o tempo:
- temos todos borboletas no estômago
(e com “borboletas” refiro-me à arma branca, borboletas cobertas de subtis / fortes manchas vermelhas nas asas).

Blague dans le coin, espero encontrar-te nos meus sonhos como fogo de destilaria, a queimar-me o sono e a cama,
fogo fátuo a reflectir a realidade, entidade trágico-cómica.
Eu, puta e má.
Tu, pobre e mentecapto.
No escuro do apeadeiro o meu coração
Bate no escudo do dinheiro na minha mão
É a máquina a vapor a minha dama
E o fumo a minha alma
Cinzento arroxeada como um ferida de Inverno

!
Chhiuuu…
Este é o comboio da minha vida
Repara como anda devagar, e eu entro
Cuidadosamente na carruagem do meio
Escolhida a dedo
Primeiro um pé no degrau, e depois o corpo inteiro
Nada de bagagem
Nada de medo.

O futuro é só daqui a três estações
Entretanto os carris vão ardendo e o comboio transformou-se em água mas não ferve
E já que o sentido da vida é leste
Lá fora as folhas de árvore vão chegar ao fundo do mar
No existencialismo da viagem a minha vida vai acabar
No comboio atiro desdenhosamente o bilhete pela janela.

E atenção, isto não é o poeta que diz, sou eu:
Que é quando o comboio mais me quer
Que eu lhe peço para ir mais longe.
Nunca tive amigos, nunca tive namorada e nunca tive família
Não devo nada a ninguém.
E não me leves a mal, mas sempre que penso em ti sinto um vazio no peito como se não tivesse coração.

Não sou todo eu?
A crepitar como uma folha amarelada,
A dormir com as costas geladas,
A estilhaçar o comboio?

Fundo-me na caravana
Feérico badalar de pólen no tecto
Mútuo roçagar entre o meu corpo e o veludo vermelho
(…e como a palavra “roçagar” me lembra as ondas do oceano insincero)
Oui, o meu vagão é o meu divã
E a minha mala a visão fluida, irónica e sonhadora
Quase escondida por este vidro tão sujo.
São coisas que ouvi do fundo do mar, das folhas das árvores
Profecias de lagartos esquecidos das horas.