Sunday, February 11, 2007

Momentos dignos de um brompton cocktail #3

Pensas na Diana Ventura e ela cai-te na sopa. Está sóbria como um besouro do Caramulo e, ao cair, o chape-chape dos seus bracinhos a querer executar um estilo mariposa suicida espalha as couves que vêm cair no teu cocuruto, enfeitando-te os cabelos como grinaldas. Na rádio ouve-se os Pedra d´Água na sua interpretação portentosa de uma imerecidamente esquecida canção popular cujo refrão reza: "Arreia as calças, gabirú!" E tu obedeces.

Wednesday, February 7, 2007

Momentos de um Brompton Cocktail #2


Vives num apartamento de um edifício velho e arruinado, pedra branca e roupa a secar. Todas as janelas dão para um átrio. É domingo de manhã (Inverno), e um homem de 32 anos, calções azuis e camisola caviada branca faz elevações numa barra de ferro frio dentro de sua casa. A tua janela está diante deste cenário, no lado oposto da átrio, e tu estás encostada a beber um chá de tília. No rádio toca 'Dirt in the Whirlwind' dos TV On The Radio. Na tua fronte, uma gota de suor.

Momentos dignos de um Brompton Cocktail #1:

Estavas num carro a fumar um cigarro. Olhaste para o carro em frente, estacionado na chuva, e o pequeno cão que estava aprisionado em cima daquela placa felpuda e cinzenta que cobre a mala traseira olhou-te nos olhos. O rádio passava 'Always crashing in the same car' do David Bowie. Nem reparaste no dono a chegar.

Ode ao doce vinho

Ao doce vinho, liricamente testado, eu ofereço borboletas do passado. Passada a selvajaria do whisky, eu digo: “Provem do meu doce vinho, seus papalvos.” O jazz passa a trote na rua destemido, nós temos jantes nos ouvidos. Olhamos para os mesmos olhos que outrora, agora com mais paixão, voltamos dos mortos, delícias macabras do deserto. Esfíngicas solidões destemidas, as que enfrentamos sem ponta de prazer.
É um certo vinho que nos mantém de pé, que nos faz apontar de modo geracional, foder de modo responsável, conduzir a alta velocidade RUM-TA-TUM-TUM-TUM pelo meio dos sofás dos camiões de todos os Selenitas de todas as luas.
Este doce vinho é uma demonstração de poder. É este o motor, rumo ao alvo esquecimento de louvados e engenhosos suores, jornadas de peito aberto à espera do redentor cachimbo, ou fumegante minério que redirecciona redenções ao metro.
No doce vinho nos aviamos de prazer, prazer que de modo obscuro, saído da miserável condição de trompetista dos Tindersticks, nos dissolve na massa anónima que é a embriaguez cibernáutica after-hours de época baixa e bissexta.

Ode ao whisky selvagem


Reclamo para nós o direito ao whisky selvagem. E reivindicarei (por nós) todos os CATA-DAPA-TUNTUMS consequentes. O whisky selvagem é fotografia sensível. Neste momento de embalo em que o doce vinho vai longe, decantado de desencanto, cantaremos o whisky selvagem com todas as sétimas menores, charleston matreiros de quem virá a ser marinheiro.
Reclamo-o para nós, sim. Porque o whisky selvagem é 16:9, é super16, é TECHNICOLOR, é a lágrima que perdurará pendurada nos nossos corações aveludados de tanta lua escondida naquela manhã de auto-estrada minguante.
A nós o whisky selvagem! Ele tem mais cores do que um amigo colorido, mais faces do que um prisma avantajado, mais flores do que um trompete desabrochado. Planifique-se esta cachoeira de sons líquidos que ecoam no grafismo errático deste lugar, desta terra castanha que se entranha nestas unhas que coçam uma atmosférica PRIMEIRA VEZ, primeira vez, primeiro BOP desassolado de sétimas matreiras, marinheiros desencantados e lacrimejantes graficamente pendurados nas auto-estradas de gargantas que gritam em uníssono: BOP! BOP!
WHISKY SELVAGEM! Para nós essa destilação de Satanás, esse torpor delinquente, que nos apoquente, que nos requente, que nos ESPORRE a cara de veloz PRAZER!!! (E que na próxima rotunda, nos espete a forquilha do fazer crer).

tradutor

Tradutor
Traduzir a couve-flor
Que cresce no teu quintal

Perder a conta às pétalas do malmequer
E arrancar antes as páginas
De um livro sobre o Natal
Que é quando o Charles Dickens quiser

Thursday, February 1, 2007

(...) a rapariga desce as escadas quatro a quatro
vai vender mágoas ao desbarato
vai vender juras falsas, amarguras, ilusões
trapos e cacos e contradições.
É terça-feira e, das cinzas, talvez
amanhã que é quarta-feira haja fogo outra vez
o meu coração é capaz de dizer "tanto faz,"
parto para a guerra com os olhos na paz.

Carpe a carpa que aproveita o dia
Assiste aos sonhos dos outros como a um filme
Sorte macaca que nos rouba a agonia
Única via para o final do amor

Apodreça a fruta que vive à volta dos caroços
Abastardadas criancinhas dos nossos pequenos-almoços
Cai-me do céu, do céu que é uma dor
E olha, escancarada, pessoas belas e vazias que dançam ao frio
Da manhã