Friday, June 1, 2007

A POESIA DA RAZÃO,ou OH MEU CARO AMÂNDIO, OS MEUS PÊSAMES, MAS...

"O dom que possuímos de ver semelhanças não é senão um frágil vestígio da violenta coacção a que estávamos sujeitos outrora, para sermos semelhantes e para assim nos comportarmos."
Walter Benjamin


-Ao contrário do Elvis, o Jeff sabia cantar. E ao contrário dos Birthday Party, sabia tocar.
-Concordo que a morte tenha sido demasiado prematura para, em condições naturais, se tornar mítica. Mas de facto assim aconteceu, e isso não enegreceu o mito. Tal como o Jean Vigo, o Ian Curtis ou o Mark Sandman, ele morreu num ponto de criatividade ímpar, deixando genial obra póstuma. Isso é morrer sem mácula, ao contrário, por exemplo, do Jim Morrison ou do Jack Kerouak, que «esticaram» e desgastaram demasiado as suas esferas, criando absolutas merdas, morrendo, aí sim, em obscuridade artística.
-Se estivesses mais atento, ou disparasses toda essa testoterónica fúria (comparável, em TODOS os aspectos, à de Aquiles...) para outra direcção, repararias que ele já invocava os deuses (mulheres, céu, vinho), e para lá do ébrio, em quase todas as canções.
-A graça do "Everybody here wants you" está em precisamente ser um pequeno cometa (e uma enorme jóia) no cancioneiro dele. Não me parece que seja uma boa forma de exercer o poderio lírico que estava então em jogo - ao contrário do que afirmas, eu acho que a voz dele ganha mais quando tem a possibilidade entrar em cascatas, indo a praticamente todas as escalas, como no "Lover, you should...". E a imagem de um barbudo cambaleante a entoar tão delgado falseto parece-me, no mínimo, grotesca.
-E deixa-me dizer-te uma coisa, algo que cada ano que ostento em cima do lombo-carcaça me ensinou, e que te poderá ajudar: há momentos para te deitares no capot sozinho a olhar para nada; há também momentos para lá te deitares com alguém, debaixo de muito céu; e sim, eu diria que fora essas duas excepções, um homem só salta para um capot se este for alheio e não estiver destinado a perdurar para lá dessa noite. Mas a vida de um verdadeiro homem, meu caro amigo, nunca estará completa enquanto não passar, pelo menos, por essas três experiências. Lembra-te sempre disso.

-Ah, e outra coisa: um verdadeiro homem não LÊ a Gina...

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