Wednesday, March 21, 2007

Sonho#3 / Momentos dignos de um Brompton Cocktail#5

Após as polémicas declarações de John Lennon em que este afirma que os Fab Four são mais famosos que Cristo, os Beatles vêm-se obrigados a comprar dois serviços de chá em porcelana (um dos quais havia já pertencido à família real) e sete mil saquetas de Earl Grey, tudo envolto em paninhos quentes, ideia, claro, do Paul McCartney. A vida corre mal para Lennon já que, poucos dias depois, ouve uma ríspida reprimenda da Yoko Ono por a ter surpreendido na banheira, banheira essa que não é mais que uma tina de madeira bem no meio da sala, onde a Yoko escovava as costas com um pente de marfim. Começa, então, para John Lennon o que havia de ficar na História como o “fim-de-semana perdido”. Durante este período, torna-se cliente habitual de um café de saloios de reputação duvidosa onde se joga bingo e os empregados vestem colete e laço pretos e camisa branca. Senta-se sempre a uma mesa redonda junto à parede por onde corre um sofá vermelho onde ele adora afundar-se e espraiar as pernas. Por cima dele, uma janela interminável, a todo o comprimento da parede. Nunca se esquece dos seus óculos de sol cor-de-laranja. A sua companhia, geralmente, são dois homens, um deles com brilhantina no cabelo, camisa cor-de-rosa que nunca tira nem lava, charuto ao canto da boca e uma sorte danada ao bingo. Um dia, John Lennon, que nunca ganha nada, sente-se particularmente amargurado e pede um bolo ao empregado, cujo nome é, ironicamente, Jesus e usa um bigode sul-americano, podia ser muito parecido com o sujeito da camisa cor-de-rosa não fosse ser muito mais magro e ter dentes de cavalo. Jesus acaba por trazer-lhe dois bolos, fez uma confusão dos diabos, e segue-se uma intensa discussão sobre a diferença entre um dan cake e um puff cake (não sei o que este último seja). Às tantas, John Lennon farta-se daquilo e diz que quer antes um balde de água fria. Passado mais ou menos um minuto, o empregado volta e despeja-lhe um balde de água fria na cabeça. No café passa uma música da minha autoria denominada "We´re more infamous than Jesus Christ."

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